De metade da semana para frente, aconteceu algo bastante raro no mundo Apple e que monopolizou as discussões no mundo da tecnologia: as péssimas reviews ao Apple Studio Display. Especialmente à sua câmara FaceTime, que mesmo sendo o mesmo hardware do iPad (e com direito ao benefício de poder tirar proveito do processamento de imagem do chip A13 Bionic) surpreendeu pela má qualidade de imagem e desempenho até mesmo em condições ideais de iluminação.
De todas as reviews que circularam por aí, a que mais chamou à atenção foi a de Nilay Patel, do The Verge. Ao longo da review, as impressões de Patel dividiram-se entre tudo o que o Studio Display tem que é igual ao LG UltraFine 5K de 27”, e tudo o que ele não tem, como por exemplo, a tecnologia MiniLED.

Lendo a review, é bastante fácil identificares-te com a frustração de um hardware caro, vindo de uma empresa bastante famosa por não poupar recursos para disponibilizar a melhor tecnologia possível em cada um dos seus produtos, e que no final das contas deixa bastante a desejar. Ou será que é isso mesmo?
A fórmula de procurar pontos ruins para balancear os pontos positivos a respeito de qualquer produto não é exatamente nova. A teoria é que, dessa forma, até mesmo os leitores mais críticos terão a sensação de que o autor do texto foi ponderado e justo na sua avaliação, não se deixando levar pela empolgação do mercado com aquele produto. No caso da Apple, noto isso com bastante frequência em canais do YouTube. Os apresentadores costumam cavar críticas que nem sempre fazem sentido, temendo comentários que os chamem de fanboys ou alguma outra bobagem assim.
O problema é que de vez em quando esta procura pela imparcialidade a todo custo gera um resultado… vazio. Na review de Patel, por exemplo, é perfeitamente justo observar que o Studio Display traz apenas um ecrã LCD. Mas compará-lo com uma tecnologia melhor apenas para provar o ponto de que ele é pior do que a tecnologia melhor parece-me injusto. A Apple não escondeu, por exemplo, que o Studio Display utilizava a tecnologia LCD. Não foi uma surpresa para ninguém. Uma decepção? Talvez. É claro que seria ótimo ela ter utilizado OLED, miniLED, microLED ou qualquer outra tecnologia desenvolvida na última década. Mas compará-lo com uma tecnologia melhor apenas para utilizar como um ponto de referência que por comparação o faça parecer pior é a mesma coisa do que fazer a review de uma bicicleta e listar “não voa” como um ponto negativo, comparando-a com um avião.
Já sobre a câmera FaceTime, isso sim é indiscutivelmente decepcionante. É uma daquelas coisas (assim como o comportamento todo errado da barra de menus no macOS à oportunidade do lançamento dos novos Macs com notch) que, por mais que esse argumento possa parecer cansado, ainda se sustenta: não costumavam acontecer sob a liderança antiga. Exceto, talvez, pelo lançamento do Mobile Me.
A boa notícia é que por utilizar o mesmo hardware de câmara do iPad e o mesmo chip que há tempos vem fazendo um ótimo trabalho de pós-processamento de imagens, teoricamente não há nada que impeça a Apple de corrigir isso com uma (ou mais) atualização de software.
Ela só não conseguirá atualizar o software para incluir as outras coisas que Nilay Patel deu falta. Neste caso, talvez tivesse sido mais proveitoso ajustar as expectativas para fazer a review do produto que foi lançado, e não do que ele gostaria que tivesse sido.