Morando no Brasil, a Oppo é uma dessas empresa sobre a qual eu costumo falar muito no Loop Matinal, mas cujos produtos eu nunca vi com os meus próprios olhos. Sempre que falo sobre os rankings dos maiores vendedores de smartphones do mundo, a Oppo está lá, firme e forte na quarta ou na quinta posição, alternando colocações com a Vivo e a Xiaomi.
Pensando bem, acho que não sei nem reconhecer um telefone da empresa (apesar de uma rápida visita ao site da companhia me dar a impressão de que eu poderia muito bem olhar para um Find e pensar que é apenas mais aparelho da linha Galaxy da Samsung). Mas o que eu sei sobre a empresa é que nesta última semana ela chamou a atenção do mercado como há tempos eu não via uma companhia de menor porte fazer.
Desde a semana passada, com os teasers de uma câmera retrátil e de um celular dobrável, a Oppo virou notícia com seu vindouro evento Inno Day que, também, teria bastante foco em realidade virtual. Passado o evento, o resultado foi uma série de anúncios que raramente parecem ser unanimemente bem-recebidos pelo público e pela imprensa.
Quero falar rapidamente aqui sobre o Oppo Find N antes de chegar ao cerne desta coluna, que são os óculos Air Glass. À primeira vista, o Oppo Find N parece ser apenas mais uma tentativa de telefone dobrável; o mercado que há anos promete ser a próxima grande coisa do mundo da tecnologia, mas que há anos falha no cumprimento dessa promessa. Mas o Oppo Find N pareceu-me ter algo de diferente, o que foi confirmado pela excelente review do The Verge sobre o dispositivo. Em suma, parece que o Find N só não será uma grande ameaça (imediata) para os dobráveis da Samsung porque ele será vendido apenas na China, onde a Samsung há tempos já não vende muito bem. Mas o que ele certamente fará será despertar o interesse de mais utilizadores para o segmento de telefones dobráveis, especialmente se no dia-a-dia a sua recepção for tão positiva quanto a do The Verge.
De um modo geral (e claro que antes da real chegada do telefone ao mercado), parece que este telefone é a primeira demonstração de que o mercado dos dobráveis tem mais fôlego do que essa moda passageira que a Samsung insiste em tentar emplacar por ter engenheiros e dinheiro suficientes para fazê-lo, sob lucro ou sob prejuízo.
Mas falemos agora dos Air Glasses que, curiosamente, parecem ser fruto justamente dessa mesma disposição a queimar dinheiro e arriscar um produto realmente novo que fez a Samsung mergulhar de cabeça no mercado dos dobráveis.
Com a mesma ressalva de que tudo o que sabemos sobre o dispositivo são as promessas feitas pela própria empresa, os Air Glasses parecem ser a primeira manifestação real do caminho que os acessórios visuais conectados pode seguir. É bem verdade que ele pode ser visto como apenas uma evolução do Google Glass, mas ele também pode ser visto como, enfim, uma evolução do Google Glass. Percebes a diferença?
Depois de anos e mais anos de rumores de que praticamente todas as empresas estão prestes a lançar algo neste mercado, e depois de inúmeras tentativas falhas de emplacar algo assim (os Snapchat Spectacles, os RayBan Stories, a parceria entre a Huawei e a Gentle Monster, os Bose AR Frame, etc, etc, etc), o Air Glass da Oppo parece ser o primeiro passo na direção certa do que esse mercado pode se tornar, ao invés de mais um tropeço ou uma escorregada que não sai do lugar.
A possibilidade de comprar um par de óculos ou apenas um monóculo, a possibilidade de escolher entre dois tamanhos, a possibilidade de usar o Air Glass em conjunto com os óculos do utilizador, o facto do visor não ser algo completamente obtrusivo (ainda que chame a atenção), o seu peso (apenas 30 gramas!) e a sua intenção de ser apenas um acessório visual ativado quando necessário (ao invés de algo que deverá permanecer ligado na frente do olho do utilizador o tempo todo) fazem do Air Glass um primeiro bom candidato ao sucesso nesse mercado.
Outra decisão sapientíssima da Oppo foi a de lançar o Air Glass somente na China. Esta limitação mercadológica (ainda que para o país onde ela tem mais clientes) a permitirá testar o Air Glass no seio dos seus utilizadores mais fiéis, sem a preocupação – ou o risco – de precisar abastecer stocks no mundo inteiro com um produto que talvez não se prove um grande sucesso.
Pensando bem, esta foi a mesma decisão acertada que a Oppo tomou para o Find N. Se essas apostas derem certo – e elas têm grandes chances de dar – a Oppo estará em uma posição muito confortável para lançar uma segunda versão mais refinada em mais países, com um know-how que nenhuma outra empresa do mercado ainda parece ter.
E ai sim, a Samsung que se cuide.