Nesta semana, o Twitter lançou um teste interessante, que é uma das maiores fugas à dinâmica original do Twitter (e mantida até hoje): Comunidades. A ideia é que os usuários criem e gerenciem grupos de discussão e compartilhamento de conteúdo de acordo com regras e temas específicos, também definidos por eles próprios. De acordo com um executivo da empresa, a participação de comunidades tem um efeito bastante positivo: faz com que as pessoas se sintam mais conectadas à plataforma e, por consequência, aumentem a participação de forma positiva contribuindo para um saldo cada vez mais positivo do que é coletivamente postado por lá.
Pensando nessa novidade, ocorreu-me a impressão de que na concorrência entre as redes sociais, o Twitter está a virar o Facebook mais rápido do que o Facebook está a virar o Twitter. E não há nada de errado com isso.
Explico: desde os primórdios da era moderna das redes sociais, o Twitter sempre teve uma vantagem gigantesca que, por algum motivo, o Facebook nunca conseguiu copiar. A vantagem do imediatismo, consolidada em definitivo com este tweet histórico:
http://twitpic.com/135xa – There's a plane in the Hudson. I'm on the ferry going to pick up the people. Crazy.
— Janis Krums (@jkrums) January 15, 2009
E por que este tweet é histórico? Em suma, esta foi a primeira vez que um tweet foi bem mais rápido do que a imprensa tradicional para reportar um evento de grandes proporções. (Indo além, esta matéria explica bem a importância desse episódio.)
Deste ponto em diante, o Twitter passou a ser encarado como a rede social do AGORA, algo que o Facebook nunca conseguiu reproduzir. Imagino que seja por conta da estrutura do Twitter, que até hoje é bem mais simples do que o Facebook. Penso no Twitter como uma avenida de mão única e apenas uma faixa. Todos os carros passam por ali, e podes utilizar a ferramenta de busca para ver exatamente todos os carros que já passaram por ali desde 2006. (Na verdade, dá para dizer que são duas faixas, sendo a segunda um túnel que abriga os tweets de perfis fechados. Mas não quero levar esta analogia longe demais).
Em contrapartida, o Facebook é uma cidade com ruas, avenidas, casas, prédios, estações de comboio e de metro, etc. A dinâmica descentralizada de publicação de conteúdo do Facebook não favorece a publicação e, principalmente, a rápida identificação e espalhamento de eventos se desdobrando em tempo real.
E olha que o Facebook tentou. Facebook Live e Facebook Stories, por exemplo, foram duas tentativas de atrair o público interessado na geração e no consumo de conteúdos se desdobrando em tempo real. Ma a iniciativa nunca deu muito certo, já que ainda assim isso é apenas uma das dezenas de funcionalidades diferentes do site, todas elas sob interferência de um misterioso algoritmo pesado que escolhe o que as pessoas devem ver.
Pois bem. E o Twitter? Eu não sei você, mas vejo o Twitter como uma espécie de mascote do mundo das redes sociais. Na verdade, acho que Wall Street também vê assim, já que o valor de mercado do Twitter representa apenas 4% do valor de mercado do Facebook. Mas é justamente aí que mora o principal trunfo da rede social de Jack Dorsey. O Twitter passou 14 anos a estabelecer-se como a rede do agora, e passou o último ano (e especialmente os últimos seis meses) investigando como valer-se dessa enorme vantagem para expandir lateralmente a sua oferta de produtos. E Wall Street está a tomar nota. Apesar de diminuto comparado ao Facebook, o valor de mercado do Twitter cresceu 50% no último ano. Comparado com o crescimento de 38% do Facebook no mesmo período, dá para ver como o Twitter parece ter um futuro mais promissor do que a rede de Mark Zuckerberg dentro e fora de Wall Street.
O que me traz de volta ao lançamento dessa última semana. Ao justificar o lançamento das Comunidades como uma forma de fidelizar ainda mais os utilizadores do Twitter, a empresa mostra que está a identificar, gradualmente, a forma certa de potencializar todas as outras iniciativas rentáveis que vem a anunciar. É o início da construção de uma segunda via nessa estrada que, ao que tudo indica, estará repleta de motoristas satisfeitos com o preço da portagem. Tudo isso bem longe da megalópole de Mark Zuckerberg que, a cada dia que passa, mais parece uma Gotham City controlada pelos fugitivos de Arkham.