A exploração lunar está, definitivamente, a viver uma fase de renascimento. Dezenas de missões, organizadas por várias agências espaciais, e cada vez mais por empresas privadas, devem visitar a Lua até o final desta década. A maioria deles envolverá pequenas naves espaciais robóticas, mas o ambicioso programa Artemis da NASA visa devolver os humanos à superfície lunar até meados da década. Há vários interesses em causa, nomeadamente a procura de recursos como a exploração da água-gelo nos polos lunares para ser transformados em hidrogénio.
A Lua ainda tem muito contar sobre a origem e evolução do Sistema Solar, mas também pode ter valor científico como plataforma para astronomia observacional. A Ciência será outra grande beneficiária desta exploração lunar a que estamos a assistir e tanto assim é que o papel potencial para a astronomia do satélite natural da Terra foi discutido numa reunião da Royal Society, uma vez que o acesso à superfície lunar está cada vez mais melhorado e facilitado.
O próximo passo de exploração lunar pode passar pela radioastronomia, que pode ser conduzida do lado da Lua que está sempre voltado para longe da Terra – o lado oculto que está sempre protegido dos sinais de rádio gerados pelos humanos na Terra. Durante a noite lunar, também é protegido do sol. Estas características fazem dele o local mais “radio-silencioso” em todo o sistema solar, já que nenhum outro planeta ou lua tem um lado permanentemente voltado para longe da Terra, sendo, portanto, ideal para explorar a radioastronomia.
As ondas de rádio com comprimentos superiores a cerca de 15 m são bloqueadas pela ionosfera da Terra. Mas as ondas de rádio nesses comprimentos de onda atingem a superfície da Lua sem impedimentos. Para a astronomia, esta é a última região inexplorada do espectro eletromagnético e é melhor observada do lado oculto da lua.
O astrónomo Jack Burns, presente nessa reunião da Royal Society, considera que nesse lado oculto da lua vai ser possível “conduzir observações de baixa frequência de rádio do início da Idade das Trevas do Universo, bem como espaço, clima e magnetosferas associadas a exoplanetas habitáveis”.
Outra aplicação potencial da radioastronomia do lado distante, segundo Jack Burns, é tentar detetar ondas de rádio de partículas carregadas presas por campos magnéticos – magnetosferas – de planetas que orbitam outras estrelas, num processo que ajudaria a avaliar a capacidade que esses exoplanetas podem ter de hospedar vida. Também existe a possibilidade de detetar sinais de alienígenas inteligentes e novos fenómenos.
Fonte: Royal Society