Tal como eu, existem agora cerca de 111 milhões de fãs viciados nesta série estilo thriller da Netflix, que além de ser um pouco macabro, acaba por nos proporcionar uma sátira eletrificante do capitalismo moderno.
Ao ver Squid Game, do criador Hwang Dong-hyuk, não pude deixar de pensar na psicologia e placement de um desenho de um casino. Por exemplo, as conhecidas Slot machines: baseiam-se numa espécie de jogo hipnótico de estimulação. Usam músicas alegres, luzes berrantes, o cair das moedas — estas máquinas transformam pequenas vitórias num hábito diário, ou se quisermos falar mais profundamente, em vícios. Muitos criadores de jogos de vídeo utilizam a mesma estratégia de modo a salvaguardem quaisquer perdas a longo termo. Em Squid Game, este efeito chega-nos em formato de um enorme mealheiro, suspenso do teto com um zumbir de barulhos semelhantes ao que se ouve nos casinos. Isto sim, é o grande prémio envolvendo vidas humanas.
Sendo fã de dramas asiáticos, nomeadamente K-dramas, é fácil entender que o “hype” e a alegria desta série era algo que tinha que ser superada. Já estava habituado a choques e reviravoltas inesperadas devido à Alice in Borderland e também Liar Game, e deixa que te diga, Squid Game não deixa a desejar! A mente brilhante do criador Hwang Dong-hyuk apenas mostra que temos que estar prontos para tudo.
Squid Game baseia-se na seguinte premissa: as personagens principais desta série são jogadores numa espécie de jogo e a quem é oferecida uma escolha simples: voltar às vidas que tinham mesmo estas sendo horríveis, ou arriscar a própria vida para ganharem o conteúdo do mealheiro. À primeira vista, a escolha parece ser óbvia, no entanto, dos 456 jogadores, apenas um pode ganhar o prémio final e, os restantes, claramente, irão sucumbir à pressão dos jogos. Eles podem obviamente desistir, exercendo aquilo que se chama uma democracia equitativa, mas à medida que o mealheiro vai a encher, será isso que fazem?
Sem querer alongar, a escolha dos atores principais, os cenários interessantes, a música assustadora e habitual das K-dramas, acabam por conjugar e mostrar exatamente o porquê desta série ser o número 1 em mais de 90 países nas plataformas de “streaming”. E, ainda mais, os jogos de infância com o ‘twist’ horripilante deixam qualquer um ansioso!
Squid Game mostra-nos tudo o que precisamos de saber sem forçar narrativas. Esta criatividade honesta tem um papel importante em fazer a ligação entre nós e as personagens que decidimos investir a nossa atenção. O facto de deixar tudo exposto demonstra desenvolvimento de carácter muito mais genuíno, e as decisões que eles fazem são mais orgânicas. No fundo, Squid Game abraça totalmente a realidade feia que é sobreviver. É uma série que não tem medo de mostrar ao público o quão baixo uma pessoa pode descer para atingir o que quer e também como isto modifica aquilo que pensamos das pessoas que conhecemos.
Recomendo seriamente darem uma vista de olhos pelo catálogo da Netflix e perderem umas belas horas a ver esta série e não, não necessariamente bingewatching, mas não se irão arrepender! E, no fim de tudo, perguntem-se a vocês mesmos “Seria eu capaz de fazer qualquer coisa por dinheiro?”.