Hoje estamos aqui para falar de um dos grandes filmes esperados deste ano — Dune. Dune, ou Duna, é um daqueles filmes que, para quem não conhece, já foi adaptado anteriormente para o grande ecrã, mas do qual obteve resultados inesperados e nada coesos. A tentativa de Denis Villeneuve é considerada a mais ambiciosa de sempre, e, a que tem muito mais apostado nela.
Como fã da obra sci-fi do Frank Herbert, Villeneuve recusou tentar encaixar a obra num único filme, como o David Lynch fez em 1984 e, em vez disso, tanto ele como a Warner Bros. concordaram em realizar uma adaptação dividida em duas partes, tal como o filme It. Mas, a segunda parte da adaptação depende totalmente da visão nada comum do Villenueve. É importante referir que acaba tudo por ser um jogo de números, especialmente nas estreias, visto que o filme Blade Runner 2049, do mesmo realizador, acabou por ser um fracasso enorme e uma mancha no mundo cinemático.
Com a pandemia e muita coisa parada, o anúncio sobre o filme e a então êxtase sobre o seu lançamento, suscitou em mim um interesse nunca sentido. E, não digo isto num sentido negativo, mas mais no sentido de, será que corresponderá às expectativas impostas pelos ‘trailers’ e notícias publicadas pelo mundo inteiro? Sou sincero, é um pouco frustrante termos apenas metade da história contada, mas veremos o que aí vem!
Trabalhando em conjunto com Jon Spaihts e Eric Roth, Villeneuve conseguiu transformar metade da obra bestseller do Herbert em Duna: Parte Um. É uma tarefa considerada notável e impressionante visto que existe apenas metade da história, mas é uma visão densa e complexa que nos leva a uma perspetiva bastante interessante e introspetiva também.
Voltando um pouco à história, Paul Atreides (Timothée Chalamet) encontra-se num caminho onde a sua vida acabará por sofrer uma grande reviravolta quando o seu pai, Duke Leto Atreides (Oscar Isaac) aceita tomar controlo do planeta Arrakis. Logo no início, é nos ditos que este planeta é onde se encontra “spice” (especiaria) — a substância mais valiosa do universo por ter capacidades de alterar a própria via, no entanto, Leto sabe que isto é uma armadilha posta em plano pelos seus inimigos.
O planeta Arrakis, sozinho, seria um problema para controlar, visto que existem os nativos — os Fremen, e também as mortíferas minhocas do deserto. No entanto, o filme também introduz os inimigos mortais da família Atreides, incluindo o asqueroso Barão Harkonnen (Stellan Skarsgåard), e o culto religioso Bene Gesserit, que no desenrolar da história, sabemos que tem um papel enorme no destino do Paul.
É muita coisa para tentar ter em conta, e é importante pensar no background principal da história do protagonista — Paul. Afinal de contas, é ele quem nos conta a história. Uma sequência muito bem-feito é aquilo que Villeneuve consegue fazer com os sonos proféticos do Paul, uma maneira para nos contar como será o resto da história. Para fãs e newbies pelo mundo fora, estes pequenos relances e previews do que aí vem, funciona da mesma forma que Marvel faz com os créditos finais do MCU. Não só estamos interessados em saber o que acontecerá no futuro, mas também chateados porque teremos que esperar até isso acontecer!
Tal como seria de esperar com o Villeneuve, Dune é considerado um filme clássico de sci-fi e igualmente bonito como comparação com o Star Wars e, tem uma banda sonora simplesmente cativante do Hans Zimmer. Quem conhece o seu trabalho sabe que qualquer melodia é selecionada para aquele momento e não faria sentido estar noutro lugar do filme. Os sons são literalmente música para os nossos ouvidos em que a acompanhar temos paisagens lindas que além de tranquilidade, transmitem também o anseio de querer saber mais.
Embora não seja um filme repleto de ação e não existam cenas que nos “façam cair da cadeira”, o filme tem peças fulcrais que não desapontam quando o Villeneuve decide lança-las. Tal como o ataque dramático e intenso da minhoca do deserto e também o assalto explosivo noturno sobre a família Atreides. Existe também intriga política e um peso emocional durante todo o filme que acaba por compensar esta falta de ação. Com a parte dois a ser discutida, existe uma boa proposta para isso mudar.
O elenco é de uma categoria inavegável e, para ser sincero, é um dos mais bem compostos deste ano, pois temos tudo! Muitos dos atores já se encontram a desempenhar papéis que sabemos serem excelentes — o David Dastmalchian como um vilão assustador, por exemplo, ou o Jason Mamoa como alguém capaz de lutar pelos seus ideais.
Chalamet sofre um pouco por ter o papel destinado a ser “o Escolhido”, mas nota-se que tem um carisma que é entusiasmante e natural. Tem momentos interessantes como a sequência do teste de Gom Jabbar, em que ele tem uma atuação realmente standout.
E, enquanto o Chalamet tem uma atuação incrível, quem for ao cinema para ver a incrível e talentosa Zendaya, acabará por sair da sala de cinema um pouco dececionado, porque, tal como a atriz tem dito: a Chani (Zenday) tem muito pouco destaque neste filme. A atriz trata da narração inicial, mas tirando isso é uma figura bastante metafórica e desaparecida. Não nos podemos esquecer das visões do Paul que revelam que Chani terá um papel muito maior no segundo filme.
Acreditem, quem for como eu, acabará por sair da sala com a triste sensação que o filme começou a ganhar tempo e força minutos antes de o ecrã ficar negro, e claro, a frustração segue por ter que aguardar. Mas, o filme é um filme interessante onde a visão do Villeneuve está bem impressa e visível.
Espero mesmo que a adaptação tenha um final feliz que voltemos a admirar o planeta Arrakis, em que apesar de ser um local bastante quente, é também onde constataremos o crescimento destas belas personagens.
Vejam o trailer, observem o filme, reflitam e digam-me — Será que foi finalmente feita justiça ao original de 1984 ou é apenas mais um caso perdido?