Nas vésperas do evento Peek Performance da Apple (que aconteceu esta semana), após a fuga de informação do Mac Studio pelo Filipe Espósito no 9to5mac, apareceram alguns conceitos e renderizações 3D tentando adivinhar o aspecto do computador. Nenhum acertou em cheio o aspecto da máquina, mas todos eles tiveram algo em comum: eles parecem ter recebido doses maiores de criatividade do que o Mac Studio que a própria Apple apresentou. E isso é uma pena.
O Mac Studio é, sem sombra de dúvidas, uma máquina sensacional. O seu desempenho e até mesmo a conectividade, com direito a – quem diria! – entradas USB-A certamente inauguraram uma nova era na história da computação pessoal de alto nível. No entanto, à primeira vista, a única coisa que eu consigo pensar é como ele é… básico. Até mesmo feio. E essa tem sido uma tendência da Apple nos últimos anos, quebrando com a tradição da empresa de ditar o design industrial não só da indústria da tecnologia, mas sim de tudo o que diz respeito a bens de consumo. Não é raro vermos até hoje aspiradores de pó e até mesmo equipamentos hospitalares bastante inspirados no histórico iMac G3. Computador esse, inclusive, que marcou o início das décadas de colaboração entre Steve Jobs e Jony Ive.
O iMac G3 diferenciou-se do mar de torres quadradas bege que era o que o mundo entendia por um computador pessoal, e mostrou que existia uma forma mais divertida, mais surpreendente e… bem, menos quadrada de se fazer as coisas. Oorre-me, inclusive, uma frase dita por Steve Jobs em 1997, logo que tomou o lugar de Gil Amelio como CEO da Apple. Jobs disse: “Os nossos produtos são uma porcaria! Não há mais sexo neles”. Apesar de (propositalmente) chocante, dá para entender o que Jobs quis dizer. E a resposta foi justamente o iMac G3, lançado no ano seguinte e que salvou a empresa da falência.
Nos anos que se passaram, cada produto lançado definiu categorias inteiras. iPod, iPhone, Mac, iPad, iOS, macOS… todos eles causaram reverberações no mundo do design industrial e gráfico. E é por isso que tem sido tão decepcionante ver os lançamentos mais recentes da Apple. Tirando, obviamente a troca do Touch ID pelo Face ID, os iPhones e iPads parecem ter perdido há tempos o interesse da equipa de design da Apple. Até mesmo o Mac Pro, lançado recentemente, parece apenas o rascunho do que poderia ter sido uma boa ideia. Ainda assim, os seus conceitos visuais pouco inspiradores foram levados à frente para as linhas de iMacs, para o Pro Display XDR e, agora, para o Mac Studio e o Studio Display.
Olhando para o Mac Studio, ele não parece apenas minimalista (conceito esse que a Apple sempre soube explorar com maestria). Ele parece preguiçoso. Há, é claro, uma genialidade invejável no aspecto técnico de resfriamento, distribuição de componentes, etc. Mas por fora, ele é tão inspirador quanto uma folha de papel em branco. Aliás, menos do que isso. Uma folha de papel em branco ao menos proporciona infinitas possibilidades.
Nestes últimos 3 ou 4 anos, a cada novo grande lançamento da Apple, tenho observado uma incómoda tendência que opta pela mínima variação de um mesmo tema. Produtos como o AirTag parecem ser uma sátira de algo que um programa de comédia diria que poderia ser feito pela Apple. O Mac Studio, também. Para uma das máquinas mais poderosas que a Apple já criou, cabia-lhe um destaque igualmente poderoso para sua aparência. Ao invés disso, a Apple adicionou mais uma caixa cinza ao mundo. Mas que poderia muito bem ser bege.