Que a tecnologia está cada vez mais presente no nosso quotidiano, não é uma novidade. Mas e se também pudesses vestir a tecnologia? Não, não estamos a especular sobre um futuro distópico, mas sim de uma realidade que está em estudo e que pode vir a ter um impacto positivo na saúde dos seus utilizadores.
Uma equipa de investigadores da Universidade Norte Americana Massachussets Institute of Technology (MIT) desenvolveu uma fibra inteligente capaz de “sentir” e responder aos movimentos dos utilizadores que a vestem. Quando transformada em peça de vestuário, esta fibra pode transmitir feedback através de vibração, pressão ou alongamento lateral.
Apelidada de OmniFiber, esta fibra dispõe de um canal oco no qual passa ar comprimido que permite à mesma dobrar, esticar, enrolar e pulsar mediante estímulos. A resposta da fibra é obtida em tempo real, à semelhança daquilo que já acontece com músculos artificiais.
No entanto, a OmniFiber foi pensada para ultrapassar algumas das limitações dos músculos artificiais. Tal como explicou a investigadora de doutoramento em Engenharia e coautora do estudo Ozgun Kilic Afsar,
“muitas fibras musculares artificiais existentes são ativadas termicamente, o que pode causar sobreaquecimento quando em contacto com a pele humana, apresentando tempos de resposta e recuperação muito lentos”.
A OmniFiber, por sua vez, não precisa de fontes de calor para mudar a sua forma, pelo que pode dar uma resposta mais eficiente.
Como é constituída esta fibra?
Na sua estrutura, a OmniFiber é composta por 5 camadas distintas: um canal de fluido interno, um tubo elástico à base de silicone, um sensor que deteta a deformação, um polímero entrançado extensível e um filamento para garantir o limite mecânico do tecido (prevenindo que o mesmo se rasgue).
Apesar destas camadas, o resultado obtido é uma fibra flexível, macia, confortável e fina, que facilmente pode ser utilizada de forma similar ao poliéster comum em processos de costura por máquinas convencionais.
Qual o impacto desta fibra na sociedade?
A fisiologia da respiração é um processo complexo, do qual se desconhece na totalidade todos os músculos utilizados. No entanto, existem diferentes exercícios e terapias que são atualmente aplicadas para ajudar a melhorar a respiração, tais como exercícios de respiração em aulas de canto.
Nas palavras da coautora Ozgun Afsar, estas fibras dispõem de módulos separados que podem monitorizar diferentes grupos de músculos enquanto os utilizadores inspiram e expiram, reproduzindo assim os movimentos individuais que estimulam esse processo.
Na prática, poderemos aplicar estas fibras para o desenvolvimento de peças de roupa que monitorizam e reproduzem os movimentos dos músculos usados na respiração. Através de feedback cinestésico (do tato), a peça de roupa poderá ajudar a estimular a postura e padrões respiratórios ideais para um melhor desempenho.
No nosso quotidiano, peças de vestuário deste género seriam úteis para cantores, locutores ou outros profissionais que dependem da voz, melhorando o seu desempenho vocal. Temos ainda um outro caso de uso nos atletas e pessoas debilitadas que necessitam de controlar a sua respiração. Ainda na área da saúde, podem-se aplicar peças de vestuário com estas fibras a utentes em recuperação de COVID-19, auxiliando na recuperação do padrão respiratório normal.