Ainda não há um diagnóstico oficial para vício em redes sociais, mas de facto é um problema crescente que está a levantar severas preocupações no que respeita à saúde mental da população em geral.
O vício em redes sociais pode estar, de certa forma, relacionado com o recente conceito de doomscrolling, que já explicámos.
Neste artigo, vou abordar um pouco mais do que nos pode levar a ficarmos viciados em redes sociais e o que fazer para acabar com o vício. O que é, como reconhecer o vício e como acabar com ele são questões a abordar neste artigo.
O que é?
Um estudo realizado por pesquisadores da Divisão de Pisicologia da Nottingham Trent University revelou que, o vício em redes sociais é um vício comportamental, idêntico aos vícios relacionados a substâncias (como as drogas).
Este vício caracteriza-se pelo uso excessivo e compulsivo de redes sociais, juntamente com um desejo incontrolável de as usar. Tal como em qualquer vício de substâncias, também este leva os viciados a fazerem de tudo ao seu alcance para conseguirem mais um pouco de tempo nas redes sociais, ignorando relacionamentos, família e amigos.
O que também acontece muitas vezes é a falta de eficiência no trabalho ou estudos, ou até mesmo a incapacidade de trabalhar devido à necessidade extrema de se manterem ligados numa rede social.
Da mesma forma, a própria vida social fica afetada, uma vez que ficam presos a um ecrã e a tarefas que melhorem as suas redes sociais. O tempo com familiares e amigos é todo passado à volta das redes sociais, sem conseguir desligar das mesmas por longos ou pequenos períodos de tempo.
Sintomas clássicos
Todas as dependências apresentam sintomas clássicos que são transversais e que se manifestam sempre que alguém se encontra dependente de algo, seja uma substância ou qualquer outra coisa, neste caso, as redes sociais.
Geralmente, mudanças de humor ou no estado emocional são dos principais fatores que permitem identificar um dependente. Como é óbvio, quanto mais tempo passa, mais a pessoa viciada irá passar a praticar o seu vício, ou seja, mais e mais tempo passará em frente a um ecrã nas suas redes sociais.
Da mesma forma, em situação de abstinência, após ou durante uma intervenção, novas alterações comportamentais e emocionais são visíveis, uma vez que a falta do vício fala mais alto. A ansiedade é um dos principais sintomas nestas situações.
Fatores de Risco
Não somos todos iguais e, como tal, estamos sujeitos a diferentes probabilidades para desenvolver dependências. De acordo com um estudo publicado no Human Behavior and Emerging Technologies Journal, há vários fatores de risco que podem aumentar essas probabilidades para todos e que muitas vezes nem podem ser evitados.
O primeiro fator é a idade. Isto porque, em geral, os mais jovens têm maior facilidade em utilizar as novas tecnologias, bem como envolver-se em atividades online. Assim, os nativos digitais, ou seja, as pessoas que nasceram durante a era da tecnologia digital estão mais predispostos a tornarem-se dependentes das redes sociais.
Outros estudos também afirmam que o género pode influenciar no desenvolvimento de dependência. Os homens, por exemplo, têm maior risco de desenvolver vício em jogos online. Já as mulheres estão mais suscetíveis a desenvolver dependência nas redes sociais.
Baixa autoestima, stress, empatia e depressão
Para além dos já mencionados, o estudo revelou também que quatro outros fatores têm peso quando o assunto é o vício nas redes sociais – autoestima, stress, empatia e depressão.
Nesse sentido, e de forma resumida, há que saber que:
- O aumento do stress pode levar a que pessoas fiquem dependentes em redes sociais;
- Baixa empatia, ou seja, possível menor competência social, pode levar a que as pessoas confiem mais nas redes sociais ao invés do contacto pessoal, podendo levar a uma futura dependência;
- Pessoas com baixa autoestima sentem, geralmente, que as redes sociais ajudam a aumentar a sua autoimagem, capital social e o senso de si mesmo;
- Segundo um estudo publicado no International Journal of Adolescence and Youth, pode ter uma correlação positiva entre a dependência em redes sociais e a depressão.
E tu, estás viciado em redes sociais?
Agora que já sabes o que é e quais são os principais fatores de risco, reside a grande questão: estou eu viciado em redes sociais?
Há uma lista de perguntas, fornecidas pelos psicólogos Mark Griffiths e Daria Kuss, que podes fazer a ti mesmo para perceberes:
- Passas muito tempo, quando não estás online, a pensar nas redes sociais ou a planear as redes sociais?
- Sentes vontade de usar as redes sociais cada vez mais ao longo do tempo?
- Usas redes sociais para esquecer problemas pessoais?
- Costumas tentar reduzir o uso de redes sociais, mas sem sucesso?
- Ficas inquieto(a) ou problemático(a) se não conseguires utilizar as redes sociais?
- Usas tanto as redes sociais que isso tem um impacto negativo no teu trabalho, relacionamento ou estudos?
Respondeste ‘SIM’ a algumas destas questões? Então provavelmente está na altura de mudares de hábitos e tentares aprender estratégias de desintoxicação digital.
Se respondeste ‘SIM’ a todas ou quase todas as perguntas acima referidas, o melhor a fazer é procurares ajuda com um psicólogo. Um profissional de saúde mental é a única pessoa capaz de te fornecer um diagnóstico fidedigno e um plano de tratamento adequado. E, por favor, não desvalorizes a saúde mental, ela é tão ou mais importante do que a saúde física e não há qualquer razão possível no mundo que justifique desvalorizá-la.
Procura ajuda
Depois de reconhecer o problema, o passo seguinte é procurar ajuda. Mais importante que isso tudo, é ter a consciência de que, não há ajuda que faça o trabalho por ti. Acima de tudo tens de ser tu a querer resolver o problema, melhorar e abandonar o vício. Apenas assim a ajuda servirá de alguma coisa.
Não esquecer que o apoio da família e dos amigos é sempre fundamental neste processo. Nenhum vício ou hábito é fácil de quebrar, no entanto, também não é impossível quebrá-lo.
Além disso, apesar de poderes sempre recorrer ao privado, em Portugal, o serviço nacional de saúde conta com psicólogos aos quais podes recorrer. Basta pedires, por exemplo, à tua médica de família que te encaminhe para um deles.