Depois do furdunço da troca de nome do Facebook para Meta, e a previsível (e merecida) reação cética do mercado à novidade, acho que agora podemos, com mais calma, analisar alguns aspectos da proposta do tal Metaverso, no qual a nova velha empresa do não-mais-tão-jovem-assim Mark Zuckerberg parece estar disposta a apostar a própria existência.
Eu não sei quanto a vocês, mas sempre que vejo vídeos de conceito, sinto uma oximórica empolgante preguiça. Empolgante, porque de uma forma ou de outra, o conceito aponta a direção para qual uma parte do mercado de tecnologia irá apontar. E preguiça, porque raramente o resultado final (se é que existe algo como um resultado final no mundo da tecnologia) é sequer próximo do apresentado.
Tomemos como exemplo este vídeo de 2008 da Nokia, em que apresenta o Morph: um conceito de nanotecnologia empregada num dispositivo móvel híbrido, que poderia tomar a forma de um tablet, telemóvel ou relógio, dependendo da necessidade do utilizador.
Na época, a Nokia desde o começo deixou claríssimo que este vídeo era apenas um conceito das possibilidades que se abririam com as diferentes aplicações da nanotecnologia. Quase 15 anos depois, algumas ideias apresentada nesse vídeo fazem parte integral das nossas vidas, a ponto de sequer conseguirmos conceber que em algum momento de um passado não tão distante elas pareciam algo mais próximo de uma ficção científica do que da realidade.
Pois bem. Alguns anos depois, mais especificamente em 2012, a Google apresentou um vídeo-conceito chamado “One Day”. O vídeo anunciava ao mundo o Project Glass que, na sua primeira (e única) encarnação, tornaria-se o famigerado Google Glass. Mas esqueça por alguns segundos o fracasso que o produto se tornou, e tente assistir ao vídeo abaixo com novos olhos. Com os olhos de quem se deparou com esta ideia lá atrás, em 2012, sem ter noção do que viria pela frente (mas sabendo que o Google Assistente ainda não existia, e seria anunciado apenas em 2016).
Mais uma vez, não faltam pequenos embriões de boas ideias e de recursos que hoje tomamos como completamente idiossincráticos, ainda que bastante diferentes da proposta e das utilidades que a Google havia vislumbrado quando os propôs.
Agora viajemos mais uma vez no tempo, desta vez para um passado um pouco mais distante. O ano é 1987, e a Apple de John Sculley lançava um vídeo fingindo ser, na verdade, o ano de 1997, e prevendo uma mistura de produtos que… bem… não quero dar spoilers. Se estiver com tempo, assista ao vídeo completo. Se estiver sem tempo, assista apenas a parte que começa aos 2m20 e termina aos 2m40.
Em poucos segundos, perdido em uma infinidade de previsões parcialmente corretas sobre o futuro da tecnologia, a Apple apresentou o Vista Mac: o conceito de um computador de mesa que podia ser dobrado e transformado em num headset imersivo alimentado por… bem…uma pequena disquete.
O meu ponto é que todos estes vídeos (e tantos outros conceitos com promessas de como a tecnologia será num futuro distante) trazem, de uma forma ou de outra, pequenas pepitas de verdades sobre a direção para qual a tecnologia irá apontar.
O conceito do Metaverso apresentado pelo Facebook, digo, pela Meta, no final do mês passado, não traz nada de realmente novo. De The Sims a Second Life, de Roblox a Minecraft, de Ready Player One a WarGames, do Vista Mac ao Google Glass, as ideias apresentadas pelo Facebook já estavam todas aí. Mas o fato dele ter chamado a atenção para elas e de praticamente ter implorado para o resto do mercado seguí-lo indica que, de um jeito ou de outro, o Metaverso fará parte das nossas vidas no futuro. É, muito provavelmente, completamente diferente da forma como o Facebook o apresentou.