O aparecimento da indústria do plástico impactou em muito o nosso quotidiano. Desde sacos de compras a embalagens alimentares, utensílios, ferramentas e brinquedos, os plásticos constituem uma boa parte das comodidades do século XXI. A sua degradação leva à geração dos microplásticos, que podemos categorizar como pequenos fragmentos com menos de 5 milímetros e que por ação (ou inação) do ser humano acabam na natureza. Esta, por sua vez, encarrega-se de transportar os microplásticos da terra e dos oceanos para a alta atmosfera.
A concentração de microplástico é de tal forma elevada que por ano caem o equivalente a 120 milhões de garrafas de plástico em espalhadas por 11 áreas protegidas dos Estados Unidos da América. Falamos de uma ordem de 6% do país coberto em plástico!
Ora, estes números avassaladores despertaram a curiosidade de compreender como é que estas partículas estão a modelar o clima. Um estudo publicado na revista Nature em outubro deste ano traz respostas, tanto positivas como menos positivas.
Começando pelas boas notícias, atualmente a percentagem de microplásticos presentes na atmosfera estão a ter um papel positivo ao refletir parte da radiação solar que atinge o planeta. A Terra absorve parte da energia solar e reflete outra parte de volta para o espaço. Laura Revell, principal autora do artigo, constata no mesmo:
Eles [microplásticos] são muito bons a espalhar a luz solar de volta para o espaço, pelo que vemos a influência do arrefencimento a chegar. […] Mas eles também são muito bons a absorver a radiação emitida pela Terra, o que significa que podem contribuir de uma forma muito pequena para o efeito de estufa.
E essa é precisamente a má notícia referente à presença de microplásticos na atmosfera. Com a crescente quantidade de microplásticos no meio ambiente, com partículas tão variadas, é difícil prever o impacto que os mesmos terão no clima a curto, médio e longo prazo. Notemos que desde 1940 que têm sido recolhidas amostras de sedimentos dos oceanos, nas quais se tem verificado o dobro da concentração de microplásticos a cada 15 anos que passam.
Para poder construir um modelo de como os microplásticos afetam o clima, a equipa de investigadores partiu do princípio de que não seria possível replicar a diversidade de plásticos presentes na atmosfera. Não só existem polímeros diferentes, como diversidades de cores e cada partícula alberga um conjunto de bactérias, vírus e algas. Assim, os investigadores basearam o seu modelo em polímeros puros sem pigmentação e assumíram uma composição atmosférica de 100 partículas por metro cúbico de ar. Conectado estes dados a um modelo climático já existente, os investigadores puderam inferir o efeito dos microplásticos no clima.
Pelos dados extraídos, o leve arrefecimento causado pela reflexão de radiação solar cancelaria o leve aquecimento da absorção de radiação solar. Esta afirmação não foi transposta como uma possível explicação para a mudança de temperatura no clima global. Mais ainda, Laura Revell afirma que o leve arrefecimento obtido pela presença dos microplásticos não é bom. Os microplásticos representam perigo para um sem número de ecossistemas, assim como para os nossos próprios corpos. Outro fator a ter em consideração é o de que o modelo não considerava pigmentação dos microplásticos. Os tons mais escuros absorvem mais radiação, enquanto que os tons mais claros refletem mais. A pigmentação deverá ser um fator a ter em consideração na construção de modelos futuros, visto que à data ainda não é possível inferir a percentagem de pigmentos por cor presentes na atmosfera.
O estudo lança-nos dois dados importantes. Primeiramente, a presença de microplásticos está a afetar o clima. Em segundo lugar, criou uma área de especulação se os mesmos influenciam na formação de nuvens. As nuvens formam-se quando a água penetra em partículas, pelo que surgiu a dúvida se os microplásticos estaríam a agir como núcleos adicionais. E cabe às nuvens também um papel importante na reflexão da radiação solar de volta para o espaço, pelo que a formação de mais nuvens poderia refletir-se num maior arrefecimento do clima.
A autora do estudo e a sua equipa continuarão a fazer mais amostragens microplásticos na atmosfera para alimentar as bases de dados existentes e o modelo de insvestigação. A gestão de produção de plásticos e de resíduos implicam grandes mudanças sociais e políticas na forma como se gerem os microplásticos, pelo que é provável que os mesmos continuem a fragmentar-se no meio ambiente. Nas palavras de Revell, “[As taxas de produção de plástico e de gestão de resíduos] irão produzir mais microplásticos. E esses microplásticos poderão ser carregados pelo vento e exercer uma grande influência no clima”.