Um grupo de investigadores da Universidade Ludwig Maximilian, na Alemanha, criou um sistema de Inteligência artificial (IA) capaz de decifrar fragmentos de textos babilónicos. Denominado “Fragmentarium”, o algoritmo está a conseguir decifrar algumas das histórias mais antigas alguma vez escritas pelos humanos.
Com a ajuda do Fragmentarium, dois dos investigadores conseguiram identificar um hino à cidade da Babilónia. “O texto é encantador. Consegue-se imaginar muito bem a cidade. Descreve a primavera a chegar à Babilónia”, explicou o professor Enrique Jiménez. Sem o sistema, a reconstrução teria levado 30 a 40 anos.
O hino diz o seguinte:
“O rio Arahtu,
– criado por Nudmmund, o Senhor da Sabedoria – Águas
a planície, molha os canaviais;
Despeja as suas águas na lagoa e no mar.
Está a florir e verde nos seus campos,
Os prados brilham com grãos frescos;
Graças a ele, o cereal acumula-se em montões e montões,
A erva cresce alto para pastagens para os rebanhos,
Com riqueza e esplendor próprios da humanidade,
[Tudo está] coberto de gloriosa abundância”.
Até agora, apenas 200 investigadores de todo o mundo utilizaram a plataforma para o seu trabalho, que está disponível para acesso público.
O problema com a compreensão dos textos babilónicos é que estão escritos em peças de barro das quais atualmente só existem fragmentos que, ainda por cima, estão em lugares distantes uns dos outros, como o museu Britânico, em Londres, e o Museu do Iraque, em Bagdad.
Para além destes obstáculos, relatou o IFL Science, os textos são escritos em dois sistemas de escrita complexos, o Sumério e o Akkadian, tornando a tarefa de compilação dos textos ainda mais difícil.
Até aqui, de cada vez que se tornava público um texto que fizesse sentido, os investigadores decifravam previamente os excertos, copiavam os carateres para o papel, e depois comparavam essas transcrições com outros excertos para ver como se encaixavam uns nos outros e como podiam fazer sentido, num trabalho que demorava meses até estar pronto. No total já foram digitalizados 22.000 fragmentos de texto. O sistema de IA conseguiu reuni-los sistematicamente, fazendo ligações em segundos e foi também graças a isso que se chegou ao hino.
“É uma ferramenta que nunca existiu antes, uma enorme base de dados de fragmentos. Acreditamos que é essencial para a reconstrução da literatura babilónica”, disse Enrique Jiménez, professor da Universidade de Ludwig Maximilian.
Em novembro de 2022, o software reconheceu um fragmento pertencente à mais recente tábua da Epopeia de Gilgamesh, a peça de literatura mais antiga do mundo, datada de 2100 a.C.. As partes mais famosas deste poema descrevem uma grande cheia, que se pensa ser a origem da história da Arca de Noé.
Fonte: IFL Science