Anunciado em agosto passado com a linha Note 20, tendo recentemente recebido duas das suas principais funcionalidades, conseguirá o Samsung Galaxy Watch3 45mm Bluetooth valer o seu PVP de 459,90€?
A pergunta parece complicada, mas torna-se deveras simples ao analisarmos o panorama atual e aquilo que o relógio realmente oferece. Especialmente quando o mesmo se desdobra em dois modelos e tamanhos distintos: as versões de 41 mm e 45 mm e a presença, ou não, de 4G.
As especificações incluem a presença de NFC (que ajuda a fazer pagamentos com a aplicação do MBWay), Bluetooth 5.0, um processador dual-core a 1,15GHz, 1 GB de RAM e memória de 8 GB. A alimentar o seu propósito temos a presença de acelerómetro, barómetro (para GPS), sensor giroscópio, sensor de luz e o sensor de batimento cardíaco. A tornar a experiência possível, encontramos o sistema operativo da Samsung, o Tizen a fluir num ecrã Super AMOLED e com uma resolução de 360×360. A bateria é de 340mAh.
Design e Durabilidade
Utilizador por dois anos dos modelos da Mi Band 3 e 4, ao mudar para um smartwatch a diferença foi notória. Não é só “um ecrã maior”, mas sim o sentir que tenho uma peça de tecnologia que facilmente passa despercebida e se torna prática de usar.
Obviamente que os modelos da Xiaomi conseguem ter uma pegada de utilização fabulosa, mas para mim, nada iguala a presença de um wearable desenhado como relógio. Assim, este relógio de aço inoxidável e de dois botões, consegue ser confortável no pulso ao ponto de, e contrariamente ao que eu pensava, ser confortável de usar na hora de dormir. Com dois botões situados na parte direita, em que num deles temos a gravação “Galaxy Watch”, a sua navegação e utilização torna-se possível sem cliques acidentais ou mal recebidos. O aro que envolve o ecrã consegue ajudar na experiência, dando um aspeto robusto ao aparelho. O certo é que, após diversas batidas e mordidas do meu amigo de quatro patas, tanto o ecrã como a pintura do relógio permanecem intactos.
Algo que complementa o design é a facilidade com que temos acesso a diferentes braceletes. Uma vez que estas usam o sistema tradicional de fecho, torna-se fácil e acessível encontrarmos e até reciclarmos braceletes de relógios que possamos ter em casa.
As funcionalidades
Desde utilizar o relógio para que sirva de ponteiro numa apresentação de PowerPoint, até à vertente de ter detalhes da forma como corremos e da distribuição do peso do corpo, as opções são imensas.
Tudo começa na aplicação base, a Galaxy Wearable, onde se torna possível personalizar a nossa experiência e facilita a compreensão de todas as opções disponíveis no próprio relógio. É aqui, por exemplo, que se configura em pleno uma das funcionalidades de estreia deste modelo: a deteção de queda. Também a personalização ganha minuciosidade na aplicação, sendo possível não só escolher que widgets e ícones queremos ter, assim como escolher o fundo dos painéis de navegação ou criar a nossa própria interface do relógio com base na nossa roupa.
E as novas funcionalidades? Sem esquecer o aro metálico para um complemento à forma de interagir com o relógio (que pode ainda ser feita pelo ecrã tátil ou botões), temos a medição dos níveis de oxigénio no sangue, pressão arterial e eletrocardiograma. Funcionalidades estreantes num dispositivo Galaxy Watch e que complementam os novos algoritmos de medição cardíaca, stress, passos, piso/inclinação e sono. A deteção automática de atividade física está igualmente presente, bem como mais de 40 tipos de exercícios – incluindo um modo de “estilo livre”.
Algo que se destaca na componente de corrida é um treinador em tempo real que dá as tradicionais informações de batimento cardíaco, duração, passada e regularidade da mesma, por forma a evitar lesões futuras. Tudo isto pode ser consultado na aplicação Samsung Health, onde diversos gráficos ajudam a perceber e compreender os nossos resultados, assim como partilhá-los nas diversas redes sociais.
Mas é tudo bom neste relógio? Não, e muito por conta da forma como algumas destas funcionalidades funcionam. Destaco a medição de oxigénio no sangue, em que equipamentos de marcas como a Huawei conseguem estar continuamente a fazer esta leitura. No Watch3 a mesma só ocorre quando o utilizador a inicia pelo widget correspondente, sendo que nem sempre a leitura acontece, levando a erros que indicam que nos estamos a mover ou que o relógio não está devidamente preso.
O software é a chave
Tudo o que escrevi foi quase que relativamente ao hardware e ao que este potencia. Mas chega a parte em que importa falar do que realmente importa! Sim, podemos fazer a medição dos níveis de oxigénio no sangue, da nossa pressão arterial ou até um eletrocardiograma. Mas, tirando estas funcionalidades, aquilo que mais se destaca neste bonito e robusto relógio é o seu software. É podermos ter um ginásio em casa, ao usar o relógio para contar as nossas flexões, ou saber se os alongamentos que fazemos descrevem os movimentos corretos para o relógio os detetar. É estarmos sentados por muito tempo e, no ecrã brilhante e característico da Samsung, recebermos um aviso de inatividade e o relógio dar-nos três exercícios que podemos fazer sentados.
Porém, dos pontos altos do relógio é algo que está disponível pela aplicação Samsung Health. A possibilidade de escolhermos diversos planos de atividade física e os realizarmos ao recorrer aos dados obtidos pelos sensores do relógio. Algo fabuloso, especialmente quando reproduzimos o ecrã do smartphone numa televisão e podemos acompanhar, em tempo real, o nosso batimento cardíaco.
Tudo é alimentado por uma bateria capaz de nos durar cerca de dois dias e em medição contínua dos sinais vitais, algo que nos permite ter, não só dados completos do nosso ritmo cardíaco, como um gráfico detalhado a respeito do nosso stress.
O Tizen surpreendeu-me
Estou a adorar descobrir o ecossistema da Samsung como tão bem vos descrevi na review do Note 20 Ultra. Tendo a marca feito um trabalho excecional com a sua OneUI baseada no Android, tive o receio de não sentir o mesmo com o sistema operativo próprio da marca, o Tizen. E, mesmo que o mesmo não conte com uma grande panóplia de aplicações de terceiros, este funciona. Sim, por vezes não existe tanta fluidez como poderíamos esperar de um equipamento com esta faixa de preço. Mas será que acontece assim tantas vezes? Não! É algo que rapidamente desaparece ao despertarmos o relógio.
Todavia, o que gostava de obter mais deste é a personalização. Conseguir ter um cuidado ao detalhe e identidade que a Apple conseguiu com os seus relógios e edições ou de temas exclusivos.
Vale o preço?
Eu sou suspeito, já que adquiri o relógio numa promoção maluca e que o colocou a menos de 50% do seu valor. Mas, quer tenha como referência este valor, quer o preço de venda previsto, justificar um relógio que pode ultrapassar os 500€ para a sua versão de 45mm e 4G, torna-se difícil.
Então, o que o justifica?
Honestamente, a resposta volta ao último ponto que vos referi: o software e a forma como este funciona em simbiose com o telemóvel. Sim, ao contrário de uma Mi Band, podemos ter todas as notificações do nosso telemóvel no relógio. Ler o texto torna-se fácil, assim como responder, por exemplo, a SMSs que recebemos, algo possível quer com escrita digital, quer com respostas padrão predefinidas pelo relógio. A juntar a isto, temos o suporte a emojis, a fotografias, e à possibilidade de capturas de ecrã completas.
Porém, há uma funcionalidade que, se há uns longos anos gozava com ela, hoje é um excelente complemento. De que falo? Do fazer e receber chamadas no relógio. Claro que, pela versão que tenho, isto só acontece pela conectividade Bluetooth. Independentemente disso, estou deveras impressionado com a qualidade da coluna e microfone no relógio na hora de realizar chamadas e de perceber que está do outro lado. A estabilidade na ligação torna-se um fator extremamente importante, especialmente quando estou no trabalho e tenho o telemóvel a metros de distância, mas que me permite continuar contactável e não perder pitada da minha vida.
Recomendo?
Honestamente, pelo preço de venda, recomendaria o modelo Active 2 que, contando com todas as funcionalidades de saúde, consegue ter um preço mais baixo e apelativo. Sacrifica-se o anel rotativo, mas será algo que, honestamente, não sentirão falta.
Isto faz com que o Watch3 seja um mau relógio? Claro que não. E, mesmo que a bateria não dê para uma semana, ou que por vezes existam pequenos erros na hora de medir certos dados, oferece uma integração fabulosa com o smartphone. Nem é preciso a versão com suporte ao e-SIM, já que sendo versão Bluetooth, na hora de sair de casa para uma corrida/caminhada, posso descarregar as músicas que tenho no Spotify para o relógio e ouvia-las offline por uns auriculares sem fios.
Resumidamente, é um ótimo complemento e extensão ao nosso telemóvel e que, em certos momentos do dia, ajuda a que a sua ausência não seja tão notada, especialmente quando o temos a metros de nós. Se é para todos? Acredito que para os aficionados por desporto e/ou exercício em casa, sim. Para os demais, talvez não.