Acho que com muita gente não foi diferente, e o assunto da invasão da Rússia na Ucrânia segue tomando os meus pensamentos. Na semana passada, explorei as formas como o Twitter poderia aprender com os erros do passado e se firmar como a ferramenta essencial de atualização em tempo real para momentos de crise.
Bem, de há uma semana para cá, pouca coisa mudou no Twitter. Até mesmo o voto de confiança que o mercado havia dado parece ter sido revogado, e as ações da empresa perderam metade da alta que elas haviam registado nos primeiros dias da invasão.
Por outro lado, não faltaram empresas a demonstrar pulso firme e a tomar decisões assertivas contra a Rússia. Muitas delas, é bem verdade, foram apenas consequências compulsórias das sanções determinadas pelo governo americano ainda assim, a organização em massa das plataformas sociais e das empresas de tecnologia para, sobretudo, minimizar os riscos do espalhamento de desinformação por parte dos canais estatais russos é digna de nota.
Olhando para este cenário de uma forma mais abrangente, muitas empresas têm anunciado medidas que vão além das coleiras para as agências estatais russas. Os cidadãos russos estão a sofrer graves efeitos colaterais das sanções, tendo perdido acesso a aplicações, produtos e até mesmo métodos de pagamento.
Ainda que seja óbvio que isso aconteceria, a decisão da Apple de parar de vender produtos na Rússia chamou bastante à atenção do mercado. Esta pareceu ser uma decisão bastante significativa, dada a forma cuidadosa como cada faturamento trimestral da empresa é fruto do controlo absoluto de vendas ininterruptas em cada país do mundo. Por outro lado, analisando mais friamente esta situação, percebemos por exemplo que o valor de mercado da moeda russa despencou vertiginosamente nos últimos dias. Ocorre-me que recentemente a Apple interrompeu as vendas de produtos na Turquia dada uma flutuação parecida da moeda local, e nós brasileiros estamos mais do que acostumados com correções recorrentes de preços a cada evento ou anúncio de novo produto.
E foi por isso que eu fiquei a perguntar-me esta semana: e se fosse na China? Todos sabemos do grau de dependência que a Apple (e basicamente todo o resto das empresas do mundo) tem da China. Esqueçamos por um segundo que a China seja a principal fabricante de… bem… quase tudo o que é vendido pelos quatro cantos do mundo. Analisemos, no caso da Apple, apenas a divisão de faturamento. Trimestre após trimestre, a China é responsável por aproximadamente 20% do faturamento total da empresa. Este número certamente não é tão diferente para outras empresas e segmentos. Hollywood, por exemplo, está acostumadíssima a considerar a China como uma fonte de bilheteira separada frente à bilheteira do resto do mundo dos seus filmes. Na Rússia, muitos estúdios já aderiram aos boicotes. Mas e se fosse na China?
A Rússia passou os últimos anos a preparar-se para situações deste tipo. Ao exigir legalmente a presença dos seus canais estatais em todas as plataformas e, ao mesmo, tempo, ao exigir presença física de empresas estrangeiras (e os seus servidores) em território nacional, ela vinha a trabalhar com a certeza de que, chegado o momento, ela poderia apertar o mercado o quanto fosse, que o mercado cederia.
Mas faltou a Rússia considerar um detalhe importante: ela não é a China.
Mas e se fosse a China? Bem, não sei quanto a vocês, mas eu definitivamente não gostaria de descobrir.