Numa altura em que as Alterações Climáticas e os seus ativistas estão focados em limitar as emissões de carbono das indústrias de automóveis, da aviação e de energia, o processamento de dados digitais já atinge níveis de poluição comparáveis a esses setores e continua a crescer. A notícia está no Science Alert.
Mais de metade dos dados digitais gerados pelas empresas são recolhidos, processados e armazenados, mas raramente são reutilizados, sendo gerados apenas para uso único. Estes “dados escuros” (várias imagens quase idênticas mantidas no Google Fotos ou iCloud, documentos word e excel de determinada empresa já desatualizados ou dados de sensores da Internet das Coisas sem qualquer utilidade) ocupam, na verdade, um enorme espaço no mundo real pela energia de que necessitam para existir, ainda que pouco ou nada contribuam para a memória organizacional.
Em 2020, esperava-se que a digitalização gerasse 4% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas, só este ano, a produção de dados digitais deve gerar 97 zetabytes (ou seja: 97 triliões de gigabytes) de dados. Em 2025, segundo as estimativas, pode chegar aos 181 zetabytes.
Os especialistas Tom Jackson, professor de Information and Knowledge Management, na Loughborough University, e Ian R. Hodgkinson, professor de Strategy, na Loughborough University, estão a trazer para a luz do dia o conceito de descarbonização digital, que tem como objetivo ajudar a reduzir a pegada carbónica associada à digitalização. A descarbonização digital não é a utilização de smartphones, computadores, e outras tecnologias digitais, mas sim a redução da pegada de carbono dos próprios dados digitais.
Para ilustrar a magnitude da situação dos dados escuros, os data centers (responsáveis por 2,5% de todo o dióxido de carbono induzido pelo homem) têm uma maior pegada de carbono do que a indústria da aviação (2,1 por cento). Para se ter uma noção mais exata, atualmente, as empresas produzem 1.300.000.000 gigabytes de dados escuros por dia – são 3.023.255 voos de Londres para Nova Iorque.
Os especialistas avisam que é essencial fazer algo no sentido de resolver este problema. Muitas organizações têm, contudo, tentado reduzir a sua pegada de carbono. De acordo com o Science Alert, o foco tem sido a redução das fontes tradicionais de produção de carbono, através de mecanismos como a compensação de carbono por terceiros.
Mas os professores desenvolveram uma ferramenta na qual utilizam cálculos para explicar o custo carbónico dos dados para uma organização. Os resultados dizem que um negócio típico orientado por dados, como seguros, retalho, ou banca, com 100 empregados, pode gerar 2.983 gigabytes de “Dark Data” por dia. Se o negócio guardasse esses dados durante um ano, representariam uma pegada de carbono semelhante a voar seis vezes de Londres para Nova Iorque.
Agora, num estudo publicado no Journal of Business Strategy, os dois professores identificaram formas de ajudar as organizações a reutilizar dados digitais, destacando os caminhos que estas devem seguir na recolha, processamento e armazenamento de novos dados. Apesar de o tema ser abordado em grande escala, envolvendo empresas e grandes organizações, qualquer um de nós pode reduzir a pegada carbónica gerada pelos dados que produzimos.