É um facto conhecido por quem acompanha tecnologia de que existe uma certa rivalidade entre os utilizadores de Android e os de iOS, numa tentativa de demarcar qual o melhor sistema operativo mobile. Portanto, quando foi altura de trocar de smartphone, os comentários que li e ouvi de ambas as partes fizeram-me ponderar. Apesar do iOS já ter os seus cerca de 14 anos de existência, decidi em 2019 dar uma oportunidade a este sistema operativo.
Como nada substitui a experiencia na primeira pessoa e vindo do mundo Android, pude fazer as minhas próprias comparações, selecionar o que mais gosto no iOS e o que sinto que ainda tem um caminho a percorrer para chegar a um ponto que me satisfaça enquanto consumidor. Com isto, deixo-te de seguida os 5 pontos que me renderam ao iOS e os 5 pontos que acho que ainda têm que ser polidos.
O que gostar?
Quando comecei a utilizar o iPhone, imediatamente senti muitas diferenças e, felizmente, adaptei-me bastante bem ao sistema operativo. Em parte, tal deve-se a um conjunto de aspetos que adoro no iOS e que na altura ainda estavam a anos-luz de virem a ter o mesmo impacto no Android.
Simplicidade
Pode parecer cliché mas, por vezes, “menos é mais”, como dizem os ditos populares. Ao iniciar o meu iPhone pela primeira vez, aprendi rapidamente onde estava o que me interessava, como utilizar e configurar as coisas ao meu gosto e isso conquistou-me. Com o frenesim do quotidiano, queremos desfrutar da experiência de utilização e quando a mesma é simples, intuitiva e tem uma curva de aprendizagem rápida, mais depressa nos rendemos à tecnologia.
Quando a Apple desenvolveu o iOS, teve em consideração o utilizador quotidiano, que pretende equipamentos com os quais se consiga correlacionar. Aplicações nativas simples e acessiveis, pensadas ao pormenor para não cairem no exagero e preparadas para utilizadores de qualquer escalão social e nivel educacional, como por exemplo a aplicação da câmara fotográfica, pronta a apontar e fotografar com resultados consistentes.
Ecossistema
Quando me tornei um utilizador de iOS, já era utilizador há muito de Mac e iPad. Mais recentemente, adicionei um Apple Watch à família e deixem-me que vos diga: é simplesmente brilhante ver como todos os dispositivos interagem com um esforço mínimo da nossa parte. Desde a partilha de documentos e fotos entre dispositivos, começar um e-mail no iPad e terminá-lo no Mac, atender chamadas em qualquer dispositivo, emparelhamento fácil e deteção de outros dispositivos do ecossistema… Tudo é pensado de forma a que haja uma interação natural entre os dispositivos. No caso particular do iOS, a experiência com o ecossistema do qual tiro mais partido são as interações com o Apple Watch e com o Mac.
Privacidade
Em múltiplas conversas com colegas e amigos, um tema que surgiu de imediato como agrado comum é o investimenro da Apple em privacidade, não só no iOS mas ao longo de todo o ecossistema. E tal aplica-se tanto ao software como ao hardware. Aquando do surgimento do Touch ID e mais recentemente do Face ID, a empresa de Cupertino dedicou parte da sua Keynote não só a apresentar estas inovações mas, sobretudo, a assegurar e educar os seus consumidores sobre a segurança das mesmas. E tal permanece até aos dias de hoje como ponto assente no mercado: nenhuma fabricante desenvolveu um sistema de autenticação biométrica por cara com o mesmo nível de sofisticação que o da Apple.
O mesmo se aplica no iOS, para o qual a empresa da maçã tem investido em investigação e desenvolvimento ao longo dos anos, assim como em marketing, de forma a que a mensagem chegue ao consumidor final. Nas atualizações mais recentes de iOS, vemos precisamente esse nível de cuidado, onde podemos selecionar ao detalhe que aplicações podem ou não seguir a nossa atividade. De facto, algumas companhias como o Facebook insurgiram-se contra este investimento na privacidade do utilizador, por limitar a recolha de informação do mesmo e consequentemente quebrar a apresentação de anúncios mais personalizados e direccionados aos gostos e necessidades do consumidor final.
Por experiência pessoal, adoro o foco na privacidade no iOS, em particular por ter aplicações bancárias, e-mail e aplicações institucionais no meu dispositivo, entre outras. Precisamente por isso, gosto que os meus dados permaneçam meus.
Atualizações frequentes
Parte da razão pela qual abandonei o Android foi pela falta de atualizações. Com tanta variedade de dispositivos e marcas a customizar o Android à sua imagem, não foi fácil para a Google assegurar que atualizações de software chegassem a todos os utilizadores. No meu caso, em cerca de 5 anos que estive com Android, os meus dispositivos não chegaram a receber mais que 3 atualizações, no total.
Por outro lado, o sistema de atualizações no iOS está mais cuidado e sabemos que quando compramos um iPhone, estaremos a comprar um dispositivo que irá receber atualizações por mais de 3 anos. E não me refiro apenas a atualizações de segurança, mas também às atualizações mais pesadas das novas versões do sistema operativo. O hardware dos iPhones também têm evoluído bastante, de forma a que os mesmos consigam suportar novas atualizações por mais tempo. Assim, a nivel pessoal, terei que considerar que foi um ótimo investimento relativamente a este ponto.
O que faz, faz bem
Nos dias que correm, sente-se uma “guerra” de especificações na indústria dos smartphones. Todos querem ter o dispositivo com mais bateria, maior capacidade de processamento, a melhor câmara, o ecrã mais realista… A lista não acaba. Mas a Apple está num campeonato à parte com o iOS. Mais do que as especificações de topo, importa fazer um uso eficiente das mesmas e obter o melhor resultado daquilo que se tem. O melhor exemplo a apontar aqui seria o das baterias. Muitos criticaram a Apple por não divulgar nas Keynotes qual a capacidade das baterias dos seus iPhones. Na realidade, também não é preciso. Principalmente nos anos mais recentes, o iOS foi aperfeiçoado para ser mais eficiente no uso da bateria, mantendo uma performance de topo.
No geral, o iOS é excelente. Tem uma alta fiabilidade, raramente encontramos algum problema que condicione o seu uso, tem um foco elevado na segurança e privacidade e como cereja no topo do bolo, não descura a experiência do utilizador final.
Como pode melhorar?
Nem tudo são rosas no iOS e há pontos que têm que ser melhorados. Prova disso é que cada vez mais surgem concepts dos sistemas operativos, como estes poderiam ser maximizados na experiência de utilização e funcionalidades. De seguida, deixo os 5 pontos que para mim ainda podem ter um futuro mais risonho.
Adoção tardia de novas features
Tal como disse anteriormente, quando a Apple se compromete a fazer algo, procura fazê-lo bem e da forma que atingirá positivamente o maior número de pessoas possivel. Mas até que ponto deixa de ser viável e passa só a ser frustrante?
Por diversas vezes, os utilizadores de iOS viram chegar ao Android imensas funcionalidades com um potencial fantástico, que simplificavam a vida dos seus utilizadores e que davam prazer de usar. Ao iOS? Demoravam anos até que houvesse um anúncio dessas funcionalidades, o que acabava por ser um alvo de chacota de como uma empresa com tamanha dimensão não conseguia responder às necessidades do mercado. Para concretizar, dois exemplos muito concretos desta adoção tardia de novas funcionalidades são o Dark Mode e os Widgets. Quanto à evolução natural do iOS, teremos que esperar para ver.
Siri
Se há coisa que tenho curiosidade nata é para conhecer uma pessoa que se tenha dado bem com a Siri como assistente. Na minha experiência pessoal, a Siri raramente correspondeu às minhas necessidades quotidianas como sempre a senti muito limitada. Não posso deixar de referir que só este ano é que a mesma aprendeu português europeu. Só em 2021!
É inevitável não fazer comparações quando o Google Assistant é tão superior: dá as respostas na hora, interaje naturalmente connosco e em background até consegue fazer marcações por nós em restaurantes, por exemplo. Já com a Siri, acabo por ter sempre que tirar o smartphone do bolso para pesquisar manualmente aquilo que quero, porque ou não me entende ou acaba por assumir comandos errados.
Ainda assim, a assistente da Apple tem percorrido um grande caminho e tem-se tornado mais útil, ganho mais funcionalidades e aprendido novas linguas. Simplesmente, o seu caminho ainda é longo para a concorrência imposta principalmente pela Google e Amazon.
A Apple sabe o que é melhor
E é esse o problema, não é? O iOS é desenhado para o consumidor comum, mantendo a segurança e privacidade como foco. No entanto, os utilizadores também ficam restritos na customização e personalização dos seus iPhones. Dar esse nível de liberdade aos utilizadores permitir-lhes-ia instalar malware, expôr os seus dados privados, entre outros, o que acabaria por quebar o selo de confiança que os utilizadores de iOS têm com a marca.
Como disse Steve Jobs, “não é sobre a liberdade, é sobre a Apple tentar fazer a coisa certa pelos seus utilizadores”. Simplesmente, esta escolha não é para todos e é por isso que existem outras opções no mercado.
Notificações e ecrã de bloqueio
Por muito tempo, as notificações no iOS não podiam ser apelidadas de notificações propriamente. Se recebesse 3 e-mails, teria 3 balões de notificação no ecrã de bloqueio, ainda que da mesma aplicação. Felizmente que a Apple trabalhou nas notificações e as agrupou por aplicação. A falta de opções como a resposta direta no ecrã de bloqueio ou silenciar uma app por determinado período de tempo também apareceram com o tempo. Como diz o ditado, mais vale tarde que nunca.
Para o ecrã de bloqueio ficar ainda melhor, sinto falta do Always On Dislay, que teve um período de muitos rumores para o seu aparecimento no iOS mas que, para já, ainda está no nosso imaginário.
Que futuro para o iOS?
O último ponto que deixo aqui daquilo que menos gosto do iOS é a previsibilidade que o mesmo tem neste momento. Apesar das evoluções de funcionalidades, o iOS parece o mesmo de sempre, apenas com uma “cara lavada” ocasionalmente. Em termos de design pouco vai variando, sinto que o Home Screen está estático e que as funcionalidades que podemos esperar serão adaptações aprimoradas do Android.
Em fórmula que ganha não se mexe. Mas estaremos satisfeitos ad eternum com uma experiência de utilização que pouco vai mudando com os anos? Onde está o entusiasmo e a excitação? Passou tudo a ser uma questão de hardware melhor e mais bonito?
Considerações finais
Sou um utilizador globalmente satisfeito com o iOS, tenho que o admitir. Nos meus padrões de consumo, os pontos positivos ultrapassam os pontos negativos. Quando olhamos para o preço dos iPhones, esperamos obter equipamentos de topo, quer em hardware quer em software, pelo que tornamo-nos mais criticos em relação a qualquer pormenor que nos cause constrangimento. Cabe sempre a cada utilizador ter uma decisão critica do que serve para si.
Agora que deixei aqui os meus pontos favoritos do iOS e aqueles que me deixam mais frustrado enquanto consumidor, gostava de saber a tua opinião. Partilha connosco aquilo que mais e menos gostas no iOS e se já ponderaste trocar de sistema operativo mobile.