Sendo um título repuxado, é certo que nem todos sabem de que forma Steve Jobs, o famoso impulsionador da famosa Apple, se envolveu na criação da empresa que mais significado deu, e continua a dar, aos apaixonados por cinema. Sim, falo da Pixar e da forma como Jobs revolucionou a animação.
A Pixar
Para quem não sabe, a Pixar nasceu como uma parte integrante da famosa LucasFilm, a famosa produtora dos filmes vanguardistas de Star Wars. E foi assim que John Lasseter, antigo animador da Disney antes de trabalhar na LucasFilm, lançou, em 1984, a sua primeira animação 3D.
Todavia, dois anos mais tarde, Steve Jobs compra a Pixar por 10 milhões de dólares e que levou a que tal decisão fosse, em 2004, considerada a mais estúpida da história do cinema. Todavia, ao olharmos para o panorama atual, facilmente compreendemos como Steve Jobs não poderia ter estado mais certo, numa aposta que rendeu mais de 30 Óscares. Porém, nem tudo começou de forma certa e demorou até que o grande sucesso chegasse, por fim, para demonstrar a visão do que Steve queria.
Na verdade, quando Jobs apelou ao quadro de administração da Apple para a compra da Pixar, este acabou por perceber como era uma aposta cujo único interessado era ele. Todavia, as coisas mudaram de figura quando a Pixar vendeu o seu primeiro computador por $105,000. Steve vendeu então a maioria das suas ações na Apple e recomeçou de novo a sua jornada de adquirir a Pixar. Ao financiar uma nova empresa de computação, a NeXT Inc. com 12 milhões de dólares, Jobs encontrou-se com Lucas e, em 1986, pagou 10 milhões de dólares pela Pixar.
Esta compra levou a que Jobs indicasse à equipa que era tempo de meter os sonhos da animação e de filmes de lado para se concentrarem em técnicas de gráficos e que fossem possíveis de gerar lucro.
A primeira animação
A primeira animação apareceu em 1986 e rendeu logo uma nomeação para os óscares, com uma curta chamada Luxo Jr. Após isto seguiui-se Red´s Dream.
Não sendo propriamente um filme, Red’s Dream serviu para demonstrar as novas técnicas de imagem computacional. Todavia, nem tudo deu certo, já que as limitações de memória do computador levaram a que o grupo criativo abandonasse este estilo de animação por alguns projetos.
Com esta animação ficou demonstrado o desejo de demonstrar a capacidade do Pixar Image Computer (PIC) e na forma como os programas desenvolvidos (RenderMan) começavam a permitir a criação de texturas e cores em objetos 3D. Isto potenciou ao desenvolvimento de Tin Toy, a primeira animação gerada por completo num computador e que ganhou o prémio da academia para melhor curta de animação, em 1988.
O que mais Jobs impulsionou?
Steve Jobs, enquanto CEO da empresa, consegue expandir as capacidade gráficas e de animação da empresa, tendo unido forças com a Colossal Pictures, em 1989. Este estúdio, especializado em live action, animação e efeitos especiais, potenciou a entrada da Pixar em ambientes televisivos e em filmes comerciais. Isto potenciou ao licenciamento de diversas patentes a respeito do programa revolucionário utilizado pelo estúdio, o RenderMan.
Isto levou a diversos produtos, quer de software, como de hardware e que potenciaram o crescimento financeiro da empresa. Isto levou a um investimento em pessoal e na capacidade de gerar uma maior renderização de material. Infelizmente, este investimento e lucro de 3,4 milhões de dólares não eram suficientes para as contas da empresa e que levou a alguns despedimentos. Jobs, com a sua visão descrita como complicada pela falta de sustento para a sua visão, foi chamado para salvar a empresa. Como sabemos pelo estado atual, a salvação veio e teve um nome…
Toy Story
Estreado em 1995 e tendo Jobs como produtor executivo, tornou-se no primeiro filme completo gerado em pleno pelo computador. Foi o filme que permitiu à Walt Disney Studios assinar um contrato de distribuição e com a promessa de mais três filmes gerados inteiramente neste formato digital pela Pixar. A Disney, claro, seria quem entrava com os fundos para a produção e marketing dos filmes.
Este sucesso levou a que a própria Pixar se juntasse à Microsoft a respeito do seu RenderMan, levando a lucros de 10,6 milhões de dólares. Momentos que, juntos com o sucesso nas bilheteiras de Toy Story, levaram a que Jobs tivesse recuperado o seu investimento inicial de 10 milhões de dólares, ao embolsar 50 milhões de dólares.
“O Steve Jobs aparecia quase todas as semanas e tinha um respeito enorme pelo que nós estávamos a fazer na Pixar, sabia que a nossa experiência era muito mais produtiva que a dele, que vinha da área de tecnologia e design”, disse Afonso Salcedo. Ele sempre teve uma paixão enorme e uma crença de que estávamos a fazer uma coisa nunca antes feita”, continuou. “Sempre nos deu espaço para criarmos ideias e seguirmos em frente com projetos que nunca tinham sido feitos”.
— Declarações de Afonso Salcedo, um português que trabalhou na Pixar sob o comando de Steve Jobs.
E a Apple?
Na verdade, por esta altura, a Apple não estava num bom caminho, estando perto da rotura financeira. Isto fez com que Jobs fosse em socorro da empresa que fundara e, em 1997 logo após a Apple comprar a sua NeXT Inc., Jobs conseguiu o que todos duvidavam: de executar com sucesso dois trabalhos. Na verdade, Jobs não só apresentou o primeiro iMac (em 98), como manteve a Pixar a liderar as bilheteiras com o seu segundo filme financiado pela Disney: Uma Vida de Inseto.
Nem tudo deu certo
Apesar de todo o sucesso na Pixar, Steve desentendeu-se com o então CEO da Disney, Michael Eisner, que dificultou as negociações a respeito dos lucros entre as duas empresas. Tal levou a que, em 2004, Jobs rompesse o seu vínculo com a Disney e procurasse ativamente por outras empresas. Contudo, foi após o novo CEO da Disney, Bob Iger, chegar à frente e conseguir negociar com Steve Jobs. Este momento permitiu à Pixar voltar a trabalhar com o estúdio e a lançar os filmes no verão americano, deixando de lado os lançamentos pelo natal.
O seu futuro na Disney
Em 2006 a Disney anunciou a compra da Pixar, o que catapultou o investimento feito pelo visionário Steve Jobs, levando a que este mantivesse uns impressionantes 7% da Walt Disney, o maior acionista individual. Tal potenciou ainda um lugar no conselho de administração. Na verdade, Steve Jobs ficou com mais ações do que o ex-CEO da Walt Disney, que detinha 1,7%, e do diretor emérito da Disney, Roy E. Disney, que detinha somente 1%.
Como era, na verdade, Steve Jobs?
É pelo testemunho do português Afonso Salcedo, que trabalhou na Pixar (entre 2005 e 2011), que nos é dado a revelar como Steve, um dia de manhã “ele viu-me a aproximar e decidiu, em vez de entrar, ficar com a porta aberta à espera que eu chegasse”.
Segundo Salcedo contou em entrevista à Lusa no ano passado, o CEO da Pixar nunca mais se esqueceu de si, perguntando, sempre que o via, em que estava a trabalhar. De acordo com o artista, Jobs era “muito intenso” nos diversos momentos de trabalho e que procurava motivar as pessoas.
Também Bob Iger, na biografia publicada em 2019, revelou como se tornou próximo e um amigo de Steve Jobs. Em como, num banco de jardim, e antes de se anunciar a compra da Pixar pela Disney, Steve perguntou a Iger se poderia ir caminhar consigo.
Os dois caminharam, Steve colocou o braço por detrás das costas de Iger e disse-lhe que lhe iria contar algo que só a mulher e médico sabiam. Nesta conversa, Jobs contou a Iger que o cancro tinha voltado e que lhe contava para saber se ele queria sair do negócio que estavam prestes a anunciar. Iger pediu-lhe alguma perspetiva, e a resposta de Steve foi a de que o filho se iria formar em quatro anos e ele estaria lá, a assistir. Iger assegurou-o e de que iria continuar com o negócio, dando origem a uma amizade sólida de confiança. Para quem não sabe, o próprio Bob Iger fazia parte do quadro de diretores da Apple, tendo saído do cargo em 2019, pela concorrência dos serviços Disney+ e Apple TV+.
Entradas e saídas à parte, Steve Jobs consagrou-se como um filantropo e visionário e, quer com exigência ou humanismo, moldou e tocou aqueles que não só o conheceram, como trabalharam ou privaram das suas vidas com ele.