Não há outra forma de começar esta crónica senão comentar (e condenar) a invasão da Ucrânia pela Rússia. É claro que este não é um site sobre política, mas especialmente nos últimos anos política e tecnologia andaram de formas paralelas e, muitas vezes, inseparáveis.
Frente ao que está a acontecer por aquelas bandas, o mundo caminha – ainda que, momentaneamente de forma vagarosa, apesar de cada vez mais acelerada – para a possibilidade da primeira verdadeira guerra da era digital. Mais do que drones e mísseis teleguiados, mais do que cães robóticos substituindo cães de verdade, não está fora do campo da realidade que os próximos dias e meses tragam à tona todos os avanços bélicos tecnológicos que, francamente, eu adoraria que pudessem ter ficado apenas nos campos da teoria e da ficção científica.
E de todas essas armas, uma delas está há anos ao alcance de todos: o Twitter. Se nos últimos anos, vimos como as redes sociais podem ser usadas com maestria para o mal, temos à frente um território inexplorado, em que o Twitter poderá aproveitar uma raríssima oportunidade de demonstrar publicamente que aprendeu com os erros do passado e não os permitirá que se repitam.
Mas é claro que, tratando-se do Twitter, sabemos que esta é uma empresa que não perde nenhuma oportunidade de perder oportunidades. Nestes últimos dias mesmo, o Twitter suspendeu acidentalmente dezenas de contas que vinham a partilhar informações valiosas do inicio da investida bélica da Rússia contra a Ucrânia. O problema, de acordo com o próprio Twitter, foi o facto do sistema não ter percebido que aquelas informações tinham valor jornalístico e, francamente, humanitário, e não eram apenas publicações de glorificação de violência nem nada desse tipo. Este, infelizmente, é um problema que acontece no Twitter desde sempre. Uma rápida pesquisa mostra como eles sempre suspenderam contas indevidamente que estavam apenas a tentar trazer atenção ou divulgar informações valiosas num momento de crise.
Por outro lado, esta é a primeira vez desde a invasão ao Capitólio americano em 6 de janeiro de 2021 que o Twitter voltará a ser o centro das atenções e a única verdadeira fonte de informações em tempo real de uma situação que ainda está a desenrolar-se com mudanças a cada segundo. Este sempre foi o forte do Twitter, e segue provando a sua única verdadeira vantagem competitiva frente ao império que a Meta construiu às custas da implacável cópia de funções da concorrência.
Pode parecer insensível abordar este assunto desta forma, mas ele está a acontecer mesmo assim: nos últimos dias, as ações do Twitter subiram. Pouco, mas subiram. Esta foi a sinalização do mercado de que existe um ambiente de voto de confiança para que o Twitter demonstre que saberá agir com responsabilidade e com visão de futuro frente à apresentação de uma situação que ele – e só ele – tem uma verdadeira chance de aproveitar.
Sob a nova liderança, o Twitter ainda está à procura de uma forma de retomar o prumo do crescimento que há tempos foi abandonado por Jack Dorsey. O destino quis que essa oportunidade (e mais uma vez registo aqui o desconforto em colocar a situação atual como uma oportunidade) se mostrasse justamente agora que a empresa está à procura de formas alternativas de crescer. Pode ser que a solução tenha passado todo esse tempo embaixo dos narizes da empresa, e que o verdadeiro futuro do Twitter esteja justamente na aprendizagem dos erros do passado, e no aproveitamento pleno do facto dele ser a única fonte (ainda que gradualmente menos relevante) de informações em tempo real.